A primeira cena do dia que eu vi foi um assalto à mão armada. Na hora só deu tempo de correr e sentir pena da pessoa que estava sendo assaltada. Essa é mais uma cena comum e corriqueira que acontece todos os dias em Salvador.
Acabei de ler um texto que Lázaro Ramos escreveu para o Jornal A Tarde (“Toque de Recolher, Medo e Indignação”) e fiquei me perguntando as mesmas coisas que ele, aliás essas perguntas sempre me acompanham. Aonde tudo isso vai parar? Será necessário morrer mais quantos seres humanos para algo ser feito? O que leva um homem a matar, roubar e cometer atos cruéis contra outros seres humanos?
São perguntas e situações tão corriqueiras que, às vezes, só nos atentamos quando acontece algo muito próximo a nós, com nossos amigos, nossa família, com um colega de trabalho, etc.
Eu me sinto triste e às vezes sem forças. Triste por andar nas ruas e ver pessoas comendo lixo, crianças descalças na sinaleira usando drogas, roubando, fazendo malabares, mas sei que essas cenas hoje são banais, isso chocava mais na década de 80. O mais chocante agora é saber que crianças empunham armas, fazem parte do crime organizado, é ouvir depoimentos de crianças com 10 anos dizendo que matam, e ver que para eles isso é banal. Preocupo-me com os próximos anos. O que será banal? O que vai nos assustar? O que vai fazer a mídia parar por dias e dias a fio a documentar, a analisar, a achar culpados? Eu não me ouso nem a imaginar porque sei que do jeito que as coisas estão indo, boa coisa não será.
É uma visão pessimista, mas sou uma pessoa que me esforço para ver o lado bom das coisas, das pessoas, das situações, e a violência - urbana, social, cultural, educacional - não é mais questão de lado bom ou ruim, é questão de ação e de uma ação coletiva. Sem querer ser panfletária, é necessário que cada brasileiro, baiano, soteropolitano faça a sua parte e não apenas se tranque em casa ou pense que a chacina que acontece em Mussurunga, Calabar, Bairro da Paz, Nordeste de Amaralina, Santa Cruz...não acontecerá na Barra, na Pituba, na Graça...sinto-lhe informar que pelo que tudo indica, se nada for pensando e realizado, chegará sim esse dia. E aí o que faremos? Nos trancaremos mais ainda? Morreremos de depressão? Ficaremos indignados?
É triste, é lamentável, é angustiante! Todas essas palavras resumem a atualidade brasileira e resumem também as nossas vidas. Quanto de liberdade você possui? Há quanto tempo você sai na rua tranqüilo, sem a sensação de perseguição? Há quanto tempo você pára numa sinaleira e não fecha os vidros do carro?
São indagações sem respostas porque não temos essas respostas, seguimos um movimento que é de massa e mundial. Apenas sentimos medo, angústia e depressão. Mas se cada um se conscientizar e começar a fazer o pouco que é possível, a situação vai melhorar e, quem sabe, chegará o dia em que poderemos viver em paz, o dia em que o coletivo será mais importante do que o individual. O dia em que não será mais necessário morrer por causa de um celular, morrer para que uma comunidade inteira sinta medo, dentre tantas outras situações.
São apenas indagações das cenas cotidianas e corriqueiras da cidade de Salvador.
terça-feira, 17 de junho de 2008
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